terça-feira, 24 de maio de 2011

Barbie e o hábito de colecionar

Já a algum tempo (ou melhor, desde que meus filhos cresceram o suficiente para compreender que um comercial de brinquedos serve para lhes despertar o desejo de algo que pode ser encontrado em uma loja especializada e será a dor de cabeça do papai por pelo menos até a próxima oportunidade em que mereçam um presente) venho prestando atenção ao mercado de bonecos comemorativos (em inglês são chamados de action figures) colecionáveis.

Alguns despertam curiosidade e simpatia, como os da série Star Wars, ou de filmes de super heróis que conhecemos nos gibis da Marvel ou da DC. Outros em filmes de ação que se tornaram (ou tentaram) virar novos clássicos.

E tem as Barbies.

Bom, eu já sabia - através de um documentário sobre colecionadores compulsivos - que as Barbies são MUITO colecionáveis, e as bonecas mais raras, edições limitadas, podem alcançar preços elevados em leilões na internet ou até mesmo presenciais. Uma referência que achei para escrever esse post explica muita coisa: http://www.vintagebarbiedolls.net/.

Coisas da década de 50 ou 60, que refletem a forma dos EUA pensar. Trazem uma identidade intimamente ligada à cultura do lugar e seu momento histórico - vista sempre sob um prisma que é pano para debates acalorados com o pessoal que faz estudos de gênero e critica o papel da mulher na sociedade moderna.

Bom, acontece que na minha última visita à loja de brinquedos, me deparei com isso:


E pensei: WTF is this???

E pensei mais: acho que o capitalismo conseguiu derrubar mais uma barreira! Os caras simplesmente pegaram um ícone cultural (controverso, eu sei, eu sei) da indústria dos brinquedos, e o cruzaram com outro ícone pop classico. Fizeram as Barbies das Bond Girls! E para abraçar a iniciativa criaram o rótulo "Black Label".

Eles inventaram uma forma de vender Barbies a R$ 150,00 para marmanjos! O tema, a embalagem e até o rótulo que remete aos uísques Johnny Walker cheiram a marmanjo! Senti como se um tabu estivesse quebrado. Mas fica pior:


Fizeram o "Pink Label" e reinventaram o conceito de colecionáveis, um mercado tradicionalmente de marmanjos (com suas raras exceções), usando a mesma fórmula com outro ícone pop: a saga dos vampirinhos adolescentes.

Agora colecionar action figures não é mais coisa de marmanjo (mesmo que sejam Barbies). Também é coisa de mocinhas. Vocês não genial? Ou brutal?

Eu acho um pouco das duas coisas. Fiquei com saudade dos meus antigos brinquedos de madeira.


Acho que vou fazer uns para os meus filhos neste final de semana e rezar para que eles tenham mais apreço pelo que eu fizer do que por essas ... coisas sobre as quais eu não consigo decidir o que realmente penso.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Plaina para construção de arbaletes

Olá pessoal,

Aqui tem uma idéia que me ocorreu outro dia. Eu estava preocupado com a guia da arbalete que estou fazendo... estava pensando em comprar uma tupia para poder fazer a guia, uma vez que o marceneiro que eu conheço não tem uma fresa adequada a esta tarefa e a tupia dele chega a ser uma ignorância para este trabalho delicado. Não me preocupo com as duas outras tarefas que a tupia desempenha na construção da arbalete: o descanso das borrachas na lateral do corpo e o arredondamento do corpo na parte de baixo. Para estes serviços ele tem as fresas perfeitas.

Então, visitando um site de luthieria vi um tutorial sobre como fazer uma plaina. Segue o link com o trabalho fantástico do cara: Beluthier

Ele baseou seu trabalho em um projeto de um site americano (o link para o projeto original está no endereço acima).

Mas me pareceu razoavelmente viável fazer uma coisa mais simples para resolver meu problema. Uma pesquisa rápida na internet sobre plainas me mostrou que existem plainas com ferros (ou lâminas) dos mais diversos formatos. Algumas, usadas antigamente para fazer molduras chamaram a minha atenção:

  
O desenho acima é extremamente simples. Um sanduiche de madeira cortada nos ângulos corretos com um buraco no meio para a saída dos cavacos, um ferro arredondado e uma cunha de madeira para segurar tudo no lugar. Um pouco mais de pesquisa me trouxe a informação que faltava: o ângulo de ataque do ferro, que para corte a favor da fibra da madeira deve ser de 45 graus.

Então peguei uma sobra de angelim pedra que eu tinha em casa, fiz a marcação e fui para a marcenaria do meu amigo, que me ajudou a cortar na esquadrejadeira os pedaços da forma correta:



Depois de dividir a madeira em três fatias, sendo a do meio de 20mm, peguei este pedaço do meio e marquei um ângulo de 45 graus. Não jogue fora o pedaço que será cortado entre a parte anterior e posterior do miolo. Ele servirá de molde para fazer a cunha que vai segurar o ferro no lugar.

Feito esse corte, foi só dar um espaço de 2cm, mais ou menos, e aumentar o ângulo. Colei a parte anterior do miolo e levei para fazer a furação. Como estamos furando uma peça cheia de ângulos o correto é usar uma furadeira de coluna e uma broca especial, tipo fresa, e não as brocas chatas.
 
Esse serviço tem de ser feito por um marceneiro que tenha essa broca. Não tente fazer em casa com sua furadeira manual, nem com broca chata. Você só vai se machucar seriamente.


Agora chegou a hora de colar as duas partes que faltam: primeiro a parte posterior do miolo, com rampa em 45 graus onde o ferro vai descansar, e a segunda lateral, esta inteira, sem furação. Importante passar cola de forma uniforme por toda a superfície.


Grampear e esperar secar!


Um close da parte interna enquanto seca:


Enquanto isso está secando, vamos nos preocupar com o ferro. Na verdade eu fiz o ferro antes da madeira, mas tanto faz. Para fazer essa peça importante usei um pedaço de mola de Kombi, que tem aproximadamente 20mm de largura e uns 2mm de espessura. Molas de carros são feitos de aço 5160, com teor de carbono relativamente alto (o que quer dizer, duro o suficiente para reter fio) e têm uma grande vantagem: já estão temperados (a têmpera é o processo pelo qual se endurece o aço).

Logo, se tomarmos cuidado para que este aço não se aqueça demais durante o desbaste da lâmina, ele não perderá a têmpera.

Então cortei um pedaço da ponta da mola com a esmirilhadeira. O lado que cortei esquentou, e ficou destemperado. Podemos verificar isso quando aço adquire uma cor amarelada ou azulada. Isso é uma camada de óxido que se forma na superfície. Então usei o outro lado para fazer a ponta afiada do ferro.

Marquei o centro e, a partir dali - com  o auxílio do paquímetro - medi 7mm. Então fui para o esmiril para fazer o desbaste.

Para desbastar temos que ter muito cuidado para não esquentar. O ideal é, a cada passada pela pedra, mergular o ferro em água ou passar por baixo da torneira. Feito o formato arredondado na ponta, basta escolher um lado e começar a fazer o fio, criando um ângulo agudo - mas de apenas um lado, o outro deve ficar plano. O resultado foi este:


Do outro lado, podemos ver o ângulo do fio:


Bom, a madeira já deve estar seca. Depois de verificar a colagem coloquei uma folha de lixa 220 para madeira sobre uma pedra de granito que tenho aqui em casa (perfeitamente plana) e dei uma boa lixada esfregando a madeira na lixa. Lixei também a parte de trás e arredondei os cantos para não machucar a mão.


Para prender o ferro na plaina, escolhi um pedaço de marupá (madeira mais mole que o angelim pedra) e marquei com o pedacinho que sobrou do miolo e cortei a cunha.


Aí foi só remover o excesso de material:



Por último medi o meio da plaina e o meio da minha arbalete, e aparafusei uma guia de madeira de um dos lados da plaina:


Isso garante que a guia do arpão será escavada exatamente no meio da arbalete. A guia de madeira foi aparafusada para poder ser removida e trocada por outra de tamanho diferente quando eu for fazer outras arbaletes com medidas diferentes.

Resultado final:


Dicas de como trabalhar com essa ferramenta:

Comece com menos de 1mm de ferro para fora. Vai fazer apenas um risquinho na madeira. Vá aumentando ferro aos poucos, dando levíssimas marteladas no metal, e vá aumentando gradativamente a profundidada da guia na arbalete.


Corra a plaina de um lado da arbalete e se ficar um pouco fora de centro não se desespere. Basta virar a madeira ao contrário e correr a plaina no sentido oposto, para nivelar o corte. Se você nâo errou MUITO, isso não vai fazer diferença.

Mas como ficou o trabalho???


Toda essa guia foi escavada em apenas meia hora de trabalho. Depois de usar a plaina também é necessário enrolar um pedacinho de lixa 80 emum lápis e passar por dentro da guia para dar um bom acabamento. Gaste mais uns 20 minutos nisso. É tempo bem investido.

E aqui alguns cavacos produzidos pela minha mais nova amiguinha:


Acho que, para uma primeira tentativa, esse pequeno projeto foi um sucesso! Fiquei muito feliz com o resultado e acho que, assim como eu, qualquer bricoleiro que esteja fazendo arbaletes artesanais pode economizar um bom dinheiro na tupia. Pelo menos por um tempo. Para quem esteja pensando em se profissionalizar, aconselho comprar a máquina em algum momento - como eu mesmo estou pensando em fazer.
Abraços e água roxa pra todos!


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Nota: o colega Nelson Scarpa, também participante do Guarapa´s, me mandou o seguinte e-mail com algumas informações muito legais:

Jefferson! vc não me conhece mas faço parte tambem do Guarapas. Estive vendo seu blog, aliás parabens!!! e notei que postou uma plaina de madeira e vi que a usou para o rebaixo da seta. O Guilherme (Nome da Plaina), pode ser usado tambem na lateral (rebaixo do elástico) pois anos atrás era usada para rebaixos de caxilios de madeira tanto para portas como janelas.Eu tambem fabrico alguns arbaletes e acho que os viu no Guarapas na seção (links), tambem tenho um blog mas está desatualizado (scarpasub.blogspot.com).Abraços e Parabens pelas armas

terça-feira, 3 de maio de 2011

Arbalete #2 - primeira parte

Olá Pessoal,

Estou infectado com o micróbio das arbaletes. Não tem mais volta, já iniciei o segundo projeto, que com sorte e dedicação espero vender para poder comprar um bom neoprene para caçar nas águas aqui de Floripa.




 Comecei por um dos pontos mais fracos do primeiro projeto: a coronha. De um bloco inteiro de canela mesclada cortei um perfil inspirado nas coronhas que tenho visto na net, adicionando elementos de design próprios. De um bloco, pode-se recortar duas coronhas. Em uma delas, a que será usada neste projeto, fiz a furação.



Aqui está ela de um lado...


 E aqui do doutro.

Em seguida coloquei as tábuas do corpo em ordem, resinei, apliquei a fibra de vidro e amarrei tudo para secar:


Aqui estou usando um esquema de laminação diferente do primeiro projeto. Usei antes duas lâminas de jatobá de 4cm X 1,5cm com uma lâmina com as mesmas dimensões de marupá no meio, laminadas no sentido vertical.

Agora resolvi atacar com duas lâminas de cedro de 4cm X 1,5cm com uma de cerne de canela da mesma medida no meio, laminadas na vertical, e mais uma lâmina de jatobá de 1cm X 4,5 cm laminada na horizontal em cima de tudo. Ficou mais ou menos assim:


Essa técnica deve deixar o conjunto mais resistente e mais leve. Até porque retirei cerca de 1cm da parte de baixo, deixando o corpo todo com apenas 3,5cm de altura por 4cm de largura - depois de passar tudo na desempenadeira. Ficou mais ou menos assim:


Nesse esquema de laminação a guia do arpão vai ser cortada no jatobá, que é a madeira mais dura do conjunto. Depois disso, passei para a grosa e comecei a esculpir a coronha. Está ficando bom, na minha opinião:


E do outro lado:



Para ter uma ideia do conjunto final:


Já planejando também a posição do gatilho:


A arma terá comprimento total de 130cm, e espero ter cano de pelo menos 110. Vou usar duas borrachas de 16mm. Inicialmente pensava em usar duas de 20mm, mas acho que não vai ser necessário.


É isso aí galera. Esse vai ser mais lento do que o outro, principalmente porque quero prestar muito mais atenção aos detalhes e ao acabamento, até porque quero vender essa arma no final do processo.

Grande abraço pra todos!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Discurso do Rei

Outra surpresa inesperada. Depois de um jantar com amigos que foi até às 5 da manhã de sábado, ter acordado cedo no domingo, e passado o dia com as crianças, à noite estava exausto. Mas a dona patroa merecia um carinho, afinal fizemos 8 anos de casamento ontem, e dadas as circunstâncias nada melhor do que um cineminha.


Eu não sabia sobre o que era o filme. Não tinha a mínima ideia sobre o tema, só sabia que estava recebendo boas críticas. Apesar do sono e do filme ser mesmo um pouco lento - coisa do gênero a que se presta - a atuação do príncipe/rei gago é fantástica.

O crescendo da relação que se desenvolve entre ele e seu "speach therapist" Lionel é muito interessante, enquanto um cresce e o outro se despe das suas camadas de proteção, títulos e arrogância - características próprias de um monarca. Em dado momento, as raízes da insegurança do rei aparecem, naturalmente, e a natureza segue seu curso.

Uma surpresinha à parte é uma Helena Bonhan Carter animadinha e rechonchuda no papel da rainha, de uma forma que eu nunca vi antes em filme algum. Grande contraste com a maluca do Clube da Luta, por exemplo. Espero que ela esqueça o Tim Burton por um tempo e se envolva em mais projetos deste tipo.

domingo, 1 de maio de 2011

Arbalete de madeira #1 - última parte

Olá pessoal!

Já tava pronto faz tempo, mas eu estava esperando uma câmera melhorzinha que a do celular para tirar umas fotos.


O acabamento ficou muito ruim perto do que poderia ser. Usei uma técnica que não gostei muito para aplicar a resina. A primeira demão foi bem grossa, aplicada com pincel. Depois inventei de lixar.... nada bom. apesar de minimizar as imperfeições, em muitos locais o acabamento ficou opaco e feio.

As duas demãos seguintes apliquei com rolo de espuma. Ficou muito mais fácil e o resultado teria sido melhor se eu tivesse usado quatro ou cinco demãos com o rolo de espuma. É o que farei na próxima arma - que já está em andamento!



Também não gostei nada da coronha. Usei uma sobra da madeira e faltou material para esculpir. Não tem uma pegada muito natural, mas quebra o galho. Fiz um guarda-mato para o gatilho usando uma tira de inox e fixei o mecanismo do gatilho com parafusos de inox. O molinete está também aparafusado e pode ser trocado com facilidade.



O cabeçote, na minha opinião bem duvidosa, ficou bem esculpido. Fiquei bem satisfeito também com o passador, apesar de não estar polido como deveria. De qualquer forma, acabamento primoroso não foi mesmo o foco deste primeiro projeto. No cabeçote, o que eu não gostei mesmo foi do pino para passar o nylon em cima, que ficou muito curto.


Para terminar, colei uma borracha de chinelo mal cortada no final, só para poder armar sem me machucar.

De uma forma geral estou muito satisfeito com esse projeto. Todos os erros foram importantes pois sem eles eu não teria aprendido um monte de coisas importantes. Um dos pontos fortes foi o uso da fibra de vidro.

Falta ainda levar para água e fazer o teste de flutuação. Ficou uma arma relativamente pesada por conta do jatobá e eu espero não ter que adicionar nenhum lastro.

Acho que foi uma primeira tentativa relativamente boa (pelo aprendizado, quero dizer) e estou pronto para fazer o segundo mudando um monte de detalhes e, quem sabe, atingindo um mínimo de qualidade de acabamento que me permita vender a arma e comprar uma boa roupa neoprene.

Abraços e obrigado pela força, em especial o Jackson e o Renato do Guarapas, entre muitos outros, que foram sensacionais em compartilhar seu conhecimento.