Quando parei para pensar sobre muitos exemplos próximos de mim, encontrei adaptações interessantes e dicotomias marcantes, algumas até hipócritas. Uma dessas ocupou minha mente por muito tempo.

Dentro de academias ou instituições voltadas para o ensino de artes marciais é necessário algum tipo de organização. Normalmente o critério de liderança é o de senioridade, graduação ou baseado nas relações mestre-discípulos.
Qualquer um desses critérios é baseado em hierarquia, a base de qualquer relação marcial, que por sua vez tem origem na prática militar. Mas isso se adapta às nossas relações civis enquanto praticantes de artes marciais? A alternativa, mais comum em instituições mais formais (aquelas com personalidade jurídica constituída, por exemplo) é a democracia, com chapas, eleições e tudo mais que se pressupõe.
Na prática vi tentativas incompletas com as duas alternativas. Democracias que elegeram os líderes do topo da hierarquia, e que deixaram descontentes pessoas na base da cadeia de comando, e também lideranças 'naturais' no contexto marcial que abriram, de alguma forma, mão do controle inerente à sua posição.
Mas me parece (considerem feito o convíte à crítica aberta) que o problema, em ambos os casos, reside na necessidade que temos de abordar a realidade de acordo com a forma que mais nos convém. Em algumas situações as pessoas (incluso este que lhes escreve) optam por suportar a interpretação literal da tradição. Em outras querem a a flexibilidade e os benefícios das práticas civis, sociais e modernas da gestão colaborativa. Tentam fundir as duas coisas para tirar o melhor proveito dos dois mundos. Alguns casos são bem sucedidos, outros ficam fadados ao desastre.
Não posso dizer que tenho uma proposta ou conclusão madura sobre o assunto. Me parece, no entanto, que não vivemos mais no Japão feudal. Não temos mais a obrigação de morrer pelo suserano. Ao mesmo tempo devemos observar que, com a experiência, vem o respeito. Com o conhecimento vem a gratidão. E dentro desta linha de pensamento devemos aceitar o que nos é solicitado, desde que não venha a destruir o que temos como nossos valores básicos pessoais. Praticamos artes marciais, não militares.
Afirmar mesmo, só afirmo com certeza que estou feliz em treinar apenas em um dojo, sob a orientação de um sensei cuja visão das artes marciais, do mundo e do aikido eu respeito e admiro. Tenho sorte. Se não fosse desta forma, estaria fazendo outra coisa.
Olá Jefferson,
ResponderExcluirPrimeiro sobre o seu blog. Outro dia, não lembro porque, mas acabei caindo nessa discussão (http://bit.ly/9yQ0rQ). E pensei "como é que o Jefferson ainda não tem blog". Isso porque aquele post é muito bom. A exemplo de muitos outros =).
Sobre o post:
"Mas me parece (considerem feito o convíte à crítica aberta) que o problema, em ambos os casos, reside na necessidade que temos de abordar a realidade de acordo com a forma que mais nos convém."
Concordo e acrescento. Além do mais conveniente, é preciso saber onde estamos pisando. Vou ser mais claro. Sobre a senioridade, o respeito, a reverência. Eles residem no fato, de que no passado, o senis não eram apenas mais velhos. Eram realmente mais sábios e experientes. Só que hoje, isso mudou bastante.
A busca por esse ideal não é tão forte. Talvez porque o Pão&Circo seja mais sedutor. Mais fácil. Veja o tipo de cultura que é pop, por exemplo.
Porque, você não concorda que, um senil, ao se deparar como uma boa ideia de um jovem, saberia identificar/reconhecer algo bom? Ao invés de temer pelo desconhecido?
É claro, não vamos generalizar. Há casos e casos.
[]'s
Shigueru.