quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Postura marcial na sociedade moderna

A algum tempo atrás, um evento significativo me fez repensar a forma como praticantes de artes marciais aplicam a postura marcial tradicional às suas vidas públicas e privadas.

Quando parei para pensar sobre muitos exemplos próximos de mim, encontrei adaptações interessantes e dicotomias marcantes, algumas até hipócritas. Uma dessas ocupou minha mente por muito tempo.

General Akashi Gidayu preparing to commit Seppuku after losing a battle for his master in 1582. He had just written his death poem, which is also visible in the upper right corner. From wikipedia on seppuku.

Dentro de academias ou instituições voltadas para o ensino de artes marciais é necessário algum tipo de organização. Normalmente o critério de liderança é o de senioridade, graduação ou baseado nas relações mestre-discípulos.

Qualquer um desses critérios é baseado em hierarquia, a base de qualquer relação marcial, que por sua vez tem origem na prática militar. Mas isso se adapta às nossas relações civis enquanto praticantes de artes marciais? A alternativa, mais comum em instituições mais formais (aquelas com personalidade jurídica constituída, por exemplo) é a democracia, com chapas, eleições e tudo mais que se pressupõe.

Na prática vi tentativas incompletas com as duas alternativas. Democracias que elegeram os líderes do topo da hierarquia, e que deixaram descontentes pessoas na base da cadeia de comando, e também lideranças 'naturais' no contexto marcial que abriram, de alguma forma, mão do controle inerente à sua posição.

Mas me parece (considerem feito o convíte à crítica aberta) que o problema, em ambos os casos, reside na necessidade que temos de abordar a realidade de acordo com a forma que mais nos convém. Em algumas situações as pessoas (incluso este que lhes escreve) optam por suportar a interpretação literal da tradição. Em outras querem a a flexibilidade e os benefícios das práticas civis, sociais e modernas da gestão colaborativa. Tentam fundir as duas coisas para tirar o melhor proveito dos dois mundos. Alguns casos são bem sucedidos, outros ficam fadados ao desastre.

Não posso dizer que tenho uma proposta ou conclusão madura sobre o assunto. Me parece, no entanto, que não vivemos mais no Japão feudal. Não temos mais a obrigação de morrer pelo suserano. Ao mesmo tempo devemos observar que, com a experiência, vem o respeito. Com o conhecimento vem a gratidão. E dentro desta linha de pensamento devemos aceitar o que nos é solicitado, desde que não venha a destruir o que temos como nossos valores básicos pessoais. Praticamos artes marciais, não militares.

Afirmar mesmo, só afirmo com certeza que estou feliz em treinar apenas em um dojo, sob a orientação de um sensei cuja visão das artes marciais, do mundo e do aikido eu respeito e admiro. Tenho sorte. Se não fosse desta forma, estaria fazendo outra coisa.

Um comentário:

  1. Olá Jefferson,

    Primeiro sobre o seu blog. Outro dia, não lembro porque, mas acabei caindo nessa discussão (http://bit.ly/9yQ0rQ). E pensei "como é que o Jefferson ainda não tem blog". Isso porque aquele post é muito bom. A exemplo de muitos outros =).

    Sobre o post:

    "Mas me parece (considerem feito o convíte à crítica aberta) que o problema, em ambos os casos, reside na necessidade que temos de abordar a realidade de acordo com a forma que mais nos convém."

    Concordo e acrescento. Além do mais conveniente, é preciso saber onde estamos pisando. Vou ser mais claro. Sobre a senioridade, o respeito, a reverência. Eles residem no fato, de que no passado, o senis não eram apenas mais velhos. Eram realmente mais sábios e experientes. Só que hoje, isso mudou bastante.

    A busca por esse ideal não é tão forte. Talvez porque o Pão&Circo seja mais sedutor. Mais fácil. Veja o tipo de cultura que é pop, por exemplo.

    Porque, você não concorda que, um senil, ao se deparar como uma boa ideia de um jovem, saberia identificar/reconhecer algo bom? Ao invés de temer pelo desconhecido?

    É claro, não vamos generalizar. Há casos e casos.

    []'s

    Shigueru.

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