Ótimo, vamos continuar o exercício. Depois de alguns dias em treinamento sobre a visão de análise de negócios no CIASC (logo vou postar sobre isso também) nada melhor do que uma forma criativa de começar a semana.
Houve duas respostas ao primeiro post do Cafezinho Online. Ambas colocaram questionamentos bem pertinentes ao patrocinador. Também se levantou a possibilidade de questionar a Senhora que prepara os cafés. Este vai ser o segundo post desta semana sobre este projeto.
Analista de negócios otimista entrevistando o patrocinado. Assim sendo vou considerar que a técnica empregada para extrair estas informações é a
entrevista estruturada. Vejamos o que diz o BABoK 1.6:
4.7 Technique: Interview
[...]
4.7.2 Description
[...]
For the purpose of eliciting business requirements, interviews are of two basic types:
• Structured interview, where the business analyst has a pre-defined set of questions and is looking for answers.
• Unstructured interview, where, without any pre-defined questions, the business analyst and the interviewee discuss in an open-ended way what the business expects from the target system.
Acontece que mesmo as entrevistas não estruturadas ou livres não são tão livres assim. Mesmo sem uma lista de perguntas e respostas bem definidas você tem um objetivo claro para a reunião. Precisa descobrir o perfil do entrevistado e adequar sua linguagem ao que ele está acostumado a ouvir e falar. No tempo em que eu dava aulas de inglês discutia-se muito
language grading (não consegui achar rapidamente uma referência para isso online, vou ficar devendo).
Language grading quer dizer, basicamente, levar o seu diálogo ao nível de comunicação do aluno. Quer dizer que, para manter a turma toda falando inglês durante toda a aula, sem recorrer ao português, você precisa se comunicar com os alunos "rebaixando" seu inglês a um nível que eles possam compreender. Falar devagar, usar palavras simples, às vezes uma mímica, e assim por diante.
Bom, para poder falar um pouco a linguagem do cliente você precisa entrar na reunião com alguma informação: ele é administrador ou engenheiro? Analista de sistemas ou de crédito? O dono da empresa ou a pessoa que prepara o café? Ele vai entender os jargões da engenharia de software? Ele quer entrar nesse mundo ou quer apenas resolver seu problema?
O planejamento para uma entrevista não precisa ser, via de regra, especialmente meticuloso. Basta que você tenha algumas informações sobre a pessoa com quem vai conversar, faça alguns bons minutos de pesquisa online e
especial e principalmente saiba ser um bom ouvinte.
Ah! Mas todo AN deve ser um bom ouvinte... vamos para a entrevista tentando descobrir algo! Acontece que muita gente fica presa ao planejamento, à sua lista de perguntas e às respostas que pretende descobrir. Muita gente fala e pensa somente através do seu vocabulário profissional e falha em estabelecer uma conexão, um certo nível de intimidade, com o cliente. E lá se foi grande oportunidade.
Bom, tudo isso pra pensar um pouco em como se preparar para a entrevista com o Patrão, o patrocinador do projeto. Ele é administrador, mas tem muita intimidade com projetos de desenvolvimento de software. Conhece os jargões necessários e já participou de muitas entrevistas como essa, seja com desenvolvedores terceirizados, seja com pessoal da própria empresa. Vai ser moleza (desta vez).
Perguntas (vou aglutinar algumas pois a resposta será uma só)
:- Existe alguma forma de controle atualmente?
- Existe mais de um tipo de café?
- Se sim, há alguma relação/lista deles?
- Parece que a questão é dos ramais ficarem ocupados? Ou porque o Patrão não consegue falar com os funcionários quando necessário? Ou há necessidade de falar de forma muito frequente com eles?
- Ou seriam os custos adicionais dos cafézinhos extras? Ou está havendo desperdício porque a Senhora não tem ideia da demanda?
- Ou a Senhora não consegue fazer o seu verdadeiro trabalho?
- Ou o cafézinho dele demora a chegar?
As perguntas de 1 a 3 realmente (como a autora comentou) estão mais chegadas ao lado dos requisitos, enquanto as outras estão questionando o real problema do Patrão. Vamos às respostas:
- Provavelmente, afinal no final do mês existe um relatório que eu exijo do pessoal da copa dizendo quantos cafés cada funcionário consumiu (ele mostra um papel de pão com uns nomes e números rabiscados).
- Sim. Eu gosto de café com leite de manhã e preto amargo depois do almoço. Podem haver outros.
- O pessoal da copa deve ter essa lista.
- Sim, essa coisa de ligar para um funcionário e não conseguir falar com ele me irrita muito. Acontece pelo menos duas vezes por mês e me deixa bravo! Eu pago o salário deles e quero que estejam disponíveis quando eu preciso falar com eles.
- Ah isso sim me deixa furioso! Os gastos com café cresceram assustadoramente (ele pega na gaveta um maço de papel de pão rabiscado, presos com um clip de papel a um gráfico feito no excel impresso em papel A4) e por isso coloquei um limite de 10 cafés por funcionário por semana, mas está completamente fora de controle (ele balança furiosamente o último papel de pão na sua frente).
- Felizmente, sempre que peço, meu café chega quentinho e em pouco tempo (diz ele se acalmando).
Então AN´s? Quais os próximos passos e qual a sua interpretação do que aconteceu?